sexta-feira, 11 de março de 2011

Entrevista de Atkins à Veja, em 2001

"Para fazer dieta não
é preciso passar fome"

O médico Robert Atkins recebeu a repórter
Angela Pimenta em sua clínica em Manhattan,
onde concedeu a seguinte entrevista

Robert Atkins e os produtos que vende: depois de
quarenta anos de dieta, ele já esqueceu o sabor de
pães e doces

Veja – Como o senhor explica o ressurgimento das dietas de ingestão quase zero de carboidrato aproximadamente trinta anos depois de seu primeiro livro sobre o assunto ter sido escrito, feito sucesso e, em seguida, ter sido esquecido?Atkins – É muito simples: eu escrevi um novo livro para uma nova geração que não conhecia nada sobre emagrecimento seguro. Além do mais, hoje a obesidade é o mais grave problema de saúde pública na América. O grande culpado disso é o açúcar. Nos últimos quinze anos, o consumo desse produto de maneira geral cresceu abissalmente neste país. Já detínhamos um triste recorde mundial, de 53,5 quilos per capita por ano, e hoje consumimos estrondosos 62,5 quilos! O americano está comendo cerca de 700 calorias por dia em forma de açúcar, calorias completamente vazias do ponto de vista nutricional.
Veja – O senhor não sente falta de comer um pãozinho, beber vinho ou mesmo tomar um sorvete de chocolate?Atkins – Vamos por partes. Já existem vários farináceos pobres em carboidratos que substituem perfeitamente o trigo, a aveia e a cevada. Eu mesmo licenciei uma fábrica que produz a mistura Atkins para pães e bolos, que atende perfeitamente ao meu paladar.
Veja – Todos esses produtos substitutivos têm o mesmo paladar do sorvete, do bolo e do pão normais?Atkins – Francamente não posso responder a isso simplesmente porque faz quase quarenta anos que não ponho esses venenos na boca (risos).
Veja – Por que o senhor proíbe o uso do adoçante dietético aspartame e da cafeína em sua dieta?Atkins – Ainda não entendi perfeitamente o metabolismo dessas substâncias, mas estou certo de que elas inibem a cetose, justamente a reação bioquímica que minha dieta induz e que leva ao emagrecimento. Libero meus pacientes para consumir café descafeinado e adoçantes alternativos, como a sucralose, que é vendida no mercado com a marca Splenda.
Veja – Que tipo de relação o senhor mantém hoje com a Associação Médica Americana, a AMA, e com o Departamento de Agricultura do governo de seu país?Atkins – Absolutamente nenhuma. Somos mais que inimigos. Eles me atacaram injustamente nos anos 70 e jamais se desculparam por isso. Especialmente a AMA me odeia porque é financiada por grandes laboratórios farmacêuticos. Acontece que minha dieta prega justamente o equilíbrio do corpo e rejeita um monte de drogas que eles continuam empurrando para as pessoas.
Veja – O que tem a ver a dieta com os remédios?Atkins – Minha dieta acaba livrando o paciente de alguns dos remédios mais vendidos neste país. Uma imensa variedade deles, eu diria. Já tratei mais de 25 000 pessoas no Atkins Center, e, depois que elas se submeteram a minha dieta, a grande maioria não precisa mais tomar remédios contra pressão alta, diabetes, artrite, nem serotonina, diuréticos, estrogênio. A lista é imensa. E quando as pessoas se libertam dessas drogas elas se sentem rejuvenescidas em trinta, quarenta anos.
Veja – Qual sua opinião sobre essa nova safra de dietas de baixos carboidratos, como Sugar Busters e The Zone (chamada no Brasil de a dieta do Ponto Z)?Atkins – Nenhuma delas é séria. Têm nome chamativo, mas não combatem o consumo dos açúcares da maneira consistente como deveriam. The Zone, por exemplo, permite que a pessoa coma 40% de carboidratos. Isso é piada! Ela vai inflar como um balão.
Veja – Como o senhor desenvolveu sua dieta?Atkins – Em 1963 eu era um jovem cardiologista quando comecei a me interessar profundamente por obesidade, que aliás é uma das doenças mais relacionadas a problemas cardíacos. Na época, eu era viciado em pães e doces de padaria e tinha uma pança que ao que tudo indicava jamais iria parar de crescer. Foi então que depois de conhecer as pesquisas dietéticas feitas pelos pesquisadores ingleses Chalmers, Kekwick e Pawan tive a idéia de me submeter a um método pessoal de emagrecimento.
Veja – E como é que sua dieta funciona?Atkins – Basicamente por um processo que chamo de cetose benigna, que consiste na queima das cetonas por meio da supressão de carboidratos e do aumento no consumo de gorduras e proteínas. Na primeira fase da minha dieta a pessoa só ingere 20 gramas de carboidratos, mas em compensação pode comer carne, peixe, bacon e queijos na quantidade que desejar, além de um boa quantidade de hortaliças. Dessa forma, os níveis de insulina caem drasticamente e o corpo entra em cetose. Sempre digo a meus pacientes que a cetose é tão gostosa quanto o sexo ou os banhos de sol, só que sem fazer mal à saúde (risos). Ela é o método mais seguro para perder peso que existe.
Veja – Quem não pode seguir sua dieta?Atkins – Apenas não a recomendo para mulheres grávidas e para doentes renais, já que na primeira fase a dieta significa um esforço a mais para os rins, que eliminam a cetona pela urina.
Veja – Por que sua dieta é tão atacada pelas principais instituições de saúde de seu país?Atkins – Esse pessoal é de uma desonestidade intelectual impressionante. O primeiro ataque que recebi da Associação Médica Americana veio em 1973. Na época eles reuniram uma comissão de nutricionistas escolhidos a dedo para condenar meu livro. Tenho refutado tudo o que vêm dizendo, mas eles prosseguem com os ataques. Entre outras coisas, ainda naquela época eles diziam que não havia estudos conclusivos sobre a dieta cetogênica. Até hoje esses estudos independentes não existem. Sabe por quê? Porque essas pesquisas levariam a conclusões que contrariam os interesses da indústria da alimentação nos Estados Unidos. São corporações bilionárias de refrigerantes, pães, cereais, sorvetes, balas e chocolates, para não dizer todo o lixo vendido pelas lanchonetes de sanduíches e batatas fritas. Este é um país em que 60% dos adultos estão acima do peso. Isso é uma epidemia! Se minha dieta pegar nacionalmente, os lucros dessas empresas vão despencar de uma hora para a outra.
Veja – O senhor acha que sua dieta, que prevê alta ingestão de gordura, é viável para um país tropical, como o Brasil?Atkins – Claro que é. A diferença para os brasileiros é que possivelmente vocês fiquem saciados com quantidades menores de gordura, já que vivem num país de clima quente. Mas o importante é frisar que na minha dieta é a própria pessoa que estabelece a quantidade daquilo que vai comer. E quando você não precisa passar fome seu regime tem chances muito maiores de ser bem-sucedido do que se você se submeter a essas dietas de baixas calorias, que deixam as pessoas famintas. Com meu regime, as pessoas emagrecem mesmo ingerindo uma quantidade ainda maior de calorias da que consumiam antes.

3 comentários:

  1. muito boa a entrevista! dr. atkins é O cara!!!

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  2. ahhh, vc sabe se os produtos atkins sao vendidos em algum lugar do brasil??? se nao, existe alguma forma de importá-los? sao perecíveis?

    abraços

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  3. Ele condenou a ingestão de aspartame e cafeína, presentes na coca zero que vc tanto ama. Aí eu lhe pergunto: tomar ou não tomar? Vc bebe que quantidade diária sem travar a dieta? Faço esta pergunta porque também amo coca zero ( e guaraná antarctica zero). Abraço.

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